O HANNAH Office é um estúdio experimental de pesquisa e design cujo trabalho se foca em avançar a arquitetura e as práticas contemporâneas de construção ao examinar as possibilidades de novas rotinas digitais e tecnologias de fabricação. Selecionado como um dos Melhores novos escritórios de 2021 pelo ArchDaily, o HANNAH Office foi fundado em 2012 por Leslie Lok e Sasa Zivkovic, e constitui uma plataforma para explorar a tecnologia e os métodos materiais em uma diversidade de escalas, do mobiliário ao urbanismo, em busca de novos resultados em design.
Leslie Lok e Sasa Zivkovic conversaram com o Archdaily sobre ferramentas computacionais, o potencial das fabricações robóticas, assim como sobre seu trabalho acadêmico em relação às tecnologias digitais de construção. Leia a entrevista completa a seguir.
ArchDaily: Vocês podem nos contar mais sobre HANNAH e como a fabricação digital veio destacar o montante do seu trabalho?
HANNAH: HANNAH é um estúdio experimental de design e pesquisa que trabalha através de escalas, desde mobiliário à construção e ao urbanismo. Temos um forte interesse em conceitos relacionados ao fazer, à materialidade, à fabricação e à construção. Esses conceitos estão atualmente passando por transformações rápidas e mudanças de paradigmas, acolhidos por desenvolvimentos tecnológicos, sócio-econômicos e culturais por todo o globo. Nós reconhecemos que os processos de construção da arquitetura estão mudando rapidamente e se adaptando a novas realidades. No HANNAH, temos a intenção de retomar a autoria desses novos processos de construção que influenciam criticamente a maneira que atualmente podemos construir - ou que talvez devêssemos construir no futuro.
Em colaboração com nossos laboratórios de pesquisa na Universidade de Cornell, HANNAH constrói máquinas de construção open-source, que afetam como nós pensamos e projetamos pelo fazer. No entanto, não somos obceados pela tecnologia apenas pela própria tecnologia: como designers, nos consideramos generalistas enviesados, ao invés de especialistas. Em várias escalas, o desempenho e a expressão arquitetônica do nosso trabalho derivam inerentemente da materialidade, dos protocolos de construção digital, das rotinas robóticas, das novas tecnologias, de técnicas estranhas de construção, e da lógica do design de cabeça para baixo. Ao mesmo tempo, em uma mistura de suportes, é inspirada por precedentes, histórias, programas, considerações ecológicas, trabalho coletivo, obsessões pessoais, e o o mal uso criativo da tecnologia.
AD: O que impulsiona as suas explorações materiais? São as possibilidades estéticas, uma busca por um certo tipo de performance tectônica?
H: Nos últimos vários anos, nosso trabalho no HANNAH é focado principalmente em dois sistemas materiais: concreto e madeira. É justo dizer que temos uma certa afinidade em relação a trabalhar com esses dois materiais e suas várias configurações híbridas. Para ambos os sistemas materiais, estamos interessados em suas possibilidades estéticas, assim como em sua performance tectônica. Nosso trabalho é impulsionado pelas ferramentas e pelos processos de manufatura que inventamos, modificamos, e utilizamos para os nossos projetos de design. Esses processos de manufatura acontecem com algumas restrições de projeto, assim como com algumas oportunidades tectônicas únicas. Por exemplo, buscamos optimizar o uso de materiais e a eficiência de construção com a ajuda de ferramentas computacionais e estudos iterativos de design em todos os nossos projetos. Usamos os protocolos de optimização para reduzir o uso de materiais em construção com concreto impresso 3D, como na pesquisa do RCL sobre impressões 3D SubAditivas, ou otimizamos de maneira estrutural o uso de madeiras redondas como no projeto Timber De-Standardized, do RUBI Lab.
De vez em quando, algumas decisões programáticas ou estéticas superam as buscas racionais por eficiência e otimização, especialmente na escala de uma construção - como no caso do projeto Ashen Cabin. No fim, cada um dos nossos projetos tem a intenção de encontrar seu próprio equilíbrio particular entre desempenho arquitetônico e intuição do design.
AD: Com essa investigação de múltiplas camadas sobre os objetos arquitetônicos, tecnologias de construção, métodos materiais, como é o seu processo de design?
H: Nosso processo de design é multifacetado e suas especificidades dependem fortemente do contexto de um projeto, do sistema material utilizado, das ferramentas disponíveis, e do orçamento. Achamos que é prazeroso trabalhar dentro das regras dos inúmeros processos de fabricação e sistemas materiais, mas também tentamos impulsionar as fronteiras dos conjuntos de regras estabelecidos. Em alguns casos, nós quebramos deliberadamente as regras para permitir a emergência de expressões mais intuitivas de design e criatividade. A maioria dos nossos projetos em HANNAH usa indevida e criativamente a tecnologia de alguma maneira ou outra.
Em termos mais práticos, nosso processo de design é normalmente sinérgico e não descritivo, e se move livremente entre estudos digitais, simulações, códigos, modelos físicos, escritos e croquis. É importante apontar que toda a nossa pesquisa e projetos do escritório são em equipe e que a colaboração entre nossas várias equipes e parceiros desempenha um papel crítico no nosso processo de design.
AD: Quais são alguns dos projetos que vocês estão trabalhando atualmente, ou ideias com as quais estão experimentando?
H: Um de nossos principais objetivos é o de aumentar o impacto escalando nossas investigações e pesquisas e utilizando novas técnicas sustentáveis de construção em projetos. Nossa pesquisa inicial em construção em concreto impresso 3D começou em 2015 e desde então completamos um número de projetos impressos em pequena escala em 3d como RRRolling Stones, Additive Architectural Elements, e a Ashen Cabin. Nos últimos dois anos, mudamos nosso foco de projetos em pequena escala e design e construção para projetos comerciais com parceiros industriais. Essas últimas iniciativas em design focam no desenvolvimento de novos modelos para construções de impressão 3D para família e habitação de uso misto em áreas urbanas. Acreditamos que a impressão 3D e a construção automatizada irá desempenhar um papel importante para tornar as moradias mais alcançáveis, acessíveis financeiramente, e sustentáveis.
Além do nosso interessem na tecnologia de impressão 3D, temos uma paixão forte por construção em madeira fabricada roboticamente. Em projetos recentes, como HoloWall, Ashen Cabin, ou Log Knot, utilizamos estratégias alternativas de obtenção de materiais, escaneamentos 3D, e tecnologias de realidade aumentada para trabalhar com madeira que normalmente é considerada resíduo. Nosso projeto mais recente, Unlog, utiliza madeira descartada e infestada com brocas que é fatiada roboticamente e transformada em componentes leves estruturais, aumentando os limites da nossa imaginação arquitetônica - tanto literalmente quanto de maneira figurada. O projeto será exposto em março de 2022 na Exposição de Construção com Biomateriais na Universidade da Virgínia, curada por Katie MacDonald e Kyle Schumann.
AD: Como o envolvimento no campo acadêmico informa seus projetos? Além disso, qual vocês acreditam que seja a relação entre academia e prática?
H: Nossas posições acadêmicas informam profundamente nosso escritório - e vice-versa. Ambos lecionamos na Universidade de Cornell, onde dirigimos laboratórios independentes de pesquisa que avançam nossos interesses de pesquisa acadêmica. Leslie dirige o Laboratório de Inovação em Construções Rurais e Urbanas (RUBI) que investiga métodos de construção ao combinar tecnologias de construção digital com materiais naturais e não-padronizado para o design de edifícios adaptáveis e moradias em contextos rurais-urbanos. Ao estudarmos comportamentos regionais desde a transformação espacial aos recursos materiais, o laboratório contextualiza as estratégias de design únicas a comunidades locais e busca desenvolver maneiras impactantes de repensar o futuro da construção urbana.
Sasa dirige o Laboratório de Construção Robótica (RCL) , um grupo de pesquisa que foca no desenvolvimento de tecnologias robóticas sustentáveis de construção para avançar nossos ambientes construídos do futuro. Ambos os laboratórios desenvolvem trabalhos de pesquisa fundamentais, que examinam como as novas rotinas digitais podem ajudar a transformar o pensamento do design arquitetônico através de escalas e sistemas materiais. Nos nossos cursos e seminários do estúdio avançado, as aulas e pesquisas se fundem para informar princípios pedagógicos, introduzindo nossos estudantes a novos paradigmas arquitetônicos no design e na construção. As três entidades - prática, pesquisa e pedagogia - caminham lado a lado enquanto mantém, cada uma, seus formatos distintos para a exploração arquitetônica.
AD: Qual é o maior potencial que vocês vêem na tecnologia de construção robótica?
Os potenciais da tecnologia de construção robótica são múltiplos. Entretanto, a tecnologia de construção baseada em robótica não é uma receita de cura para resolver milagrosamente todos os nossos desafios coletivos em arquitetura e construção. Aplicada dentro de alguns determinados contextos, pesquisas mostram que construções robóticas e computação podem nos ajudar a criar substancialmente prédios mais sustentáveis e eficientes. Além disso, a otimização arquitetônica e de manufatura pode ajudar a economizar materiais e podem expandir o nosso acesso a novos sistemas materiais, seja pela obtenção alternativa de materiais, seja pela completa redefinição de inteligência material. A habilidade de customização em massa de componentes arquitetônicos, para tornar a arquitetura mais responsiva, e para estabelecer uma linha de fluxo de processos de construção é amplamente facilitada pelos novos meios de fabricação. Desta maneira, a construção robótica pode nos ajudar a projetar e criar prédios melhores.
H: Além disso, trabalhar com novas ferramentas de construção nos permite explorar novas formas linguagens arquitetônicas e a descobrir formas não-familiares de expressão em design. Métodos de construção e sistemas materiais - sejam eles robóticos ou não-robóticos - informal a forma arquitetônica e o espaço. Nossas ferramentas nos permitem expandir em precedentes arquitetônicos e construir sobre as gerações de trabalhos que vieram antes de nós, enquanto nos oferece simultaneamente uma certa liberdade para repensar a arquitetura do chão para cima.
Convidamos você a conferir a cobertura abrangente da seleção curada de Novos Escritórios de 2021 . Como sempre, no ArchDaily, apreciamos muito as sugestões dos nossos leitores. Se você quer nomear um certo estúdio, firma ou arquiteto para o Novas Firmas 2022, por favor deixe sua sugestão.